CPERS escolheu o caminho da greve. E agora?

Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Tem um dito, talvez não tão popular, que fala que um coletivo sabe o que é melhor para si próprio. Isso justifica, para quem acredita nisso, que o conjunto de pessoas que compõem um sindicato, entidade, associação, ou o que quer que seja, deve ser chamado para decidir sobre o seu futuro. Nada mais democrático, correto?

Talvez sim, quando esse coletivo é amplo e representativo e quando ele tem todas as informações necessárias para tomar as decisões. Não quero fazer, aqui, a defesa da verticalização das entidades, muito antes pelo contrário, na verdade as organizações sindicais e associativas, tanto de trabalhadores, quanto de empresários, são resquícios do modo de organização social da era industrial. Em resumo não se atualizaram ao século XXI.

Isso causa distorções enormes frente a uma tomada de decisão importante, como uma greve, por exemplo. Na minha opinião é o que aconteceu com o CPERS ontem. A decisão da categoria é legítima, não quero tirar o mérito disso, mas há considerações que devem ser feitas.

Para começo de conversa a forma da decisão. Uma Assembleia Geral, de um sindicato estadual, com umas 3 a 4 mil pessoas, menos de 10% da categoria, pode chegar a uma decisão dessas somente com uma votação? Não deveria haver um processo de debate e deliberação que fosse a soma das partes, discutido regionalmente? A direção vai dizer que isso foi discutido nos núcleos pelo estado, mas de novo isso acontece utilizando-se as formas de uma organização bastante vertical onde a direção (que tem a informação) leva a proposta para a base (que recebe a informação). Numa era onde a informação está espalhada por todos os lados e é gerada por todas as pessoas esse método é bastante arcaico, pois gera uma distorção fenomenal que é excluir, previamente, todos os contrários.

Um segundo problema é o deslocamento dos participantes de todos os pontos do estado. Já está claro, pela pequena participação que isso é uma tarefa inglória, que está restrita aos dirigentes da entidade. E essa situação era pior ainda durante o Governo Yeda, onde era proibido justificar, com a participação na Assembleia do sindicato, a falta na escola.

Por último está, justamente, a concentração da informação. Quando apenas um pequeno grupo detem as informações sobre os projetos, as negociações e os encaminhamentos e os passa a conta gotas para o conjunto da categoria, cria nessa categoria, uma dependência para que ela receba a análise do fato já detalhado. Não quero dizer aqui que os professores não tem senso crítico, isso é outra coisa. Mas há uma dificuldade de saber a totalidade das informações para poder tomar decisões, talvez distoantes, de quem está dirigindo uma Assembleia.

Todo mundo que já participou de uma reunião com um grande número de pessoas sabe como esses ambientes são dispersivos e, sabe também, o quanto é fácil fazer com que se aprove a proposta apresentada por quem dirige a atividade. É aqui que reside a responsabilidade de quem dirige uma entidade em deixar, muito claro, o que está acontecendo.

A escolha do CPERS

No caso do magistério estadual o CPERS fez uma opção, na minha humilde opinião, extremamente equivocada. O problema não é a greve em dezembro ou em março como ficou a última votação. A questão principal, nesse caso, é se existe motivo para a própria greve. O sindicato sabia, e quando candidato o governador Tarso deixou sempre bem claro, que defende o Piso Nacional, mas que não tinha como pagar ele no primeiro dia de governo. Fez inclusive ações concretas nesse sentido. A primeira foi retirar o Rio Grande do Sul da Ação Direta de Inconstitucionalidade, promovida pelos governadores tucanos. A segunda foi estabelecer um plano para alcançar os valores do Piso Nacional.

Outra reclamação é sobre o sistema de avaliação. Aqui fica uma discussão esquizofrênica sobre meritocracia ou não. O mais evidente é que, parece que ninguém entendeu a proposta. Ao que tudo indica não haverá “prêmio” por resultados, o famoso 14º salário, e que além de professores, estudantes (que já são avaliados pelo ENEM), a avaliação atinge a própria secretaria de educação. Há nesse tópico uma opção pela falta de diálogo ou de querer entender a proposta.

Parece que a cúpula do sindicato, que insuflou a base da categoria, perdeu a capacidade de analisar a conjuntura. Na falta de apontar lutas diferenciadas apoiou-se na velha fórmula. Não conseguiu enxergar que a forma de negociação mudou. Não tem mais o Coronel Mendes “negociando”. O secretário de educação recebe o sindicato. O governador apresenta as propostas como forma de projetos e não de decretos. Feito isso e com pouco apoio popular a direção optou pela aventura da greve.

Essa aventura pode custar caro, inclusive para o sindicato, que perde apoio até dentro das suas bases. Resta esperar por segunda feira para ver qual a adesão. No ano passado, em Caxias do Sul, a adesão foi mínima, isso quando o governo Yeda propunha não reajusta salário. Na época a justificativa “oficial” foi que a baixa adesão foi por que os caxienses são acomodados, será?

Comentários

  1. Seria bom se tu te informasses antes de escrever uma coisa dessas !

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  2. Estamos bem informados. Temos uma opção de divulgar os fatos sob um outro olhar, diferenciado da grande mídia corporativa, mas isso não significa que tenhamos que defender, cegamente, tudo que é feito pelos movimentos sociais.

    A contradição não é nossa.

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