Corte de árvores do Marrecas é liberado pela justiça

Deu o obvio. Se não fosse em Porto Alegre seria em Brasilia, mas o jogo político funcionou e fez com que os três desembargadores do Tribunal Regional Federal liberassem o corte de árvores na área do lago da Barragem Marrecas.

Mas esse foi um dia muito estranho. Começou com a coluna, no Pioneiro, do Frei Jaime Betega (o nosso Marcelo Rossi), defendendo efusivamente a destruição de uma grande área de mata, que abriga uma série de espécies nativas de animais e vegetais. Acho que São Francisco de Assis deve ter ficado meio ressabiado.

Depois, tão logo saiu a decisão dezenas de CCs (Cargos de Confiança) da prefeitura jogaram-se as redes sociais para comemorar a vitória. Estranho celebrar uma vitória que representa o desmatamento de 200 hectares de Mata Atlântica.

Um dos tweets porém me causou estranheza:



O Secretário de Desenvolvimento Econômico de Caxias do Sul, diz que temos que ficar de olhos abertos para a conservação da área ao redor do lago da barragem? Como assim secretário? Será que há algum plano, que não sabemos, como muita coisa nessa obra, que pode por em risco essa área que seria de preservação?

A fala do Procurador foi emblemática

Mais importante do que o julgamento em si foi a fala do procurador da República, Paulo Leivas, transcrita pela jornalista Juliana Bevilaqua, do Pioneiro.

“Leivas chama atenção de que no processo de licenciamento do Ibama, os técnicos fizeram uma análise técnica e concluíram de que haviam alternativas locacionais. Após essa conclusão, esses técnicos foram destituídos do processo. Foram colocados técnicos, servidores do município de Caxias do Sul. Eles saíram da condição de empreendedores para licenciadores.

Leivas diz que o Ibama foi omisso diante das irregularidades. Segundo leivas, essa questão das alternativas técnicas é importante porque há informações de que há desperdício de 60% da água em Caxias. Há formas de reduzir esse desperdício modernizando o que já existe em Caxias, diz ele.

Leivas ressalta que o Ministério Público não é contrário à obra. Mas quer que seja cumprida a legislação, que o empreendimento seja liberado após para a realização dos estudos.”

Não sei se vocês perceberam. Os técnicos que apontaram que havia alternativas para a construção da barragem em outro lugar foram afastados. Só isso já mostra que há muita coisa que será inundada embaixo desse lago.

Com a omissão das autoridades ambientais, com a conivência da justiça e com a grande campanha de marketing da imprensa, Caxias acha que ganha uma grande obra, mas na verdade ganha mais um elo numa pesada corrente que nossos filhos terão que arrastar no futuro.

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