Quem apostar na crise "vai perder de novo"

Na reunião almoço da Câmara de Indústria e Comércio, CIC, seu presidente, Carlos Heinen, resolveu brincar de profeta de apocalipse. Fez, na verdade, seu papel. De apostar contra o Brasil. Ele disse: "Chegou o momento de admitir: estourou a bolha de otimismo e crescimento que estávamos vivendo. O fundo do poço pode esconder um poço mais profundo ainda."

A CIC, e as entidades empresariais de um modo geral, disseram a mesma coisa em 2008. Frente a crise que atingia os Estados Unidos, Europa e Japão, esse mesmos "líderes" diziam que o Brasil seria varrido do mapa e que a nossa economia seria arrasada pelo Tsunami econômico. Porém um torneiro mecânico mostrou ao mundo que quem estava errado era a política de "austeridade financeira" e "descontrole do sistema financeiro" dos ditos países desenvolvidos.

Com medidas de fortes investimentos públicos, desonerações fiscais e incentivos ao consumo, as ações do presidente Lula fizeram que o Brasil fosse o último país a entrar na "crise" e o primeiro a sair. Agora a falência das economias europeias, que enfrentam as mesmas politicas que já fracassaram há 4 anos atrás ameaçam novamente nossa economia e a presidenta Dilma já deu o recado: "Quem apostar na crise vai perder de novo".

Outra reclamação recorrente do setor empresarial, repetida também por Heinen, é dos altos impostos cobrados no Brasil. Porém essa tese é cada vez menos factual, uma vez que os impostos no Brasil não são os mais altos no mundo como costuma-se a dizer.

Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, IBPT, apresentada em janeiro desse ano, mostra o Brasil em 15º lugar entre os 30 países que tem a maior carga tributária em relação ao Produto Interno Bruto, PIB. Veja tabela abaixo:


Suécia 44,08%
Dinamarca 44,06%
Bélgica 43,80%
França 43,15%
Itália 43,00%
Noruega 42,80%
Finlândia 42,10%
Áustria 42,00%
Hungria 38,25%
Eslovênia 37,70%
Alemanha 36,70%
Luxemburgo 36,70%
Islândia 36,30%
Reino Unido 36,00%
Brasil 35,13%
República Tcheca 34,90%
Israel 32,40%
Espanha 31,70%
Nova Zelândia 31,30%
Canadá 31,00%
Grécai 30,00%
Suiça 29,80%
Argentina 29,00%
Eslováquia 28,40%
Irlanda 28,00%
Uruguai 27,18%
Japão 26,90%
Austrália 25,90%
Coréia do Sul 25,10%
Estados Unidos 24,80%


É verdade, no entanto que há algumas distorções no sistema tributário brasileiro. Uma delas é que se cobra muito imposto da produção, isso o Heinen tem razão, mas pouco imposto sobre a renda. Agora digam-nos vocês, quem topa propor aumento de impostos para os mais ricos?

Outra questão é que, muitas vezes, os impostos são mal aplicados. Na mesma pesquisa da IBPT o Brasil ocupa o 30º lugar na relação entre carga tributária e Índice de Desenvolvimento Humano, IDH. Isso nada mais é do que consequência de termos vividos num país, que por muito tempo, achou que políticas sociais eram coisas desnecessárias e que a iniciativa privada podia tudo e fazia tudo melhor.

As crises de 2008 e 2011 mostram que não. Foi o "Deus Mercado" que derrubou a economia mundial e que continua a fazer isso ao redor do mundo. A não regulamentação do capital financeiro e o lucro fácil das empresas fora da produção de bens de consumo é que levou o mundo para o buraco duas vezes.

Outro problema de nosso sistema tributário são as altas evasões fiscais. Segundo o Sonegômetro, criado pelo Instituto Brasileira de Ética Concorrencial, ETCO, desde primeiro de janeiro já foram sonegados mais de R$ 362 bilhões (acompanhe aqui) em sonegação de impostos, evasão fiscal, informalidade e outros desvios. O valor é suficiente para construir 16 milhões de casas populares.

Portanto o presidente da CIC pode ficar tranquilo que não há bolha para estourar. Os empresários devem é ir para suas empresas e fazer como seus funcionários: Trabalhar.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Lei de Responsabilidade Fiscal, de Sartori, paralizará o Estado

Caso Paese já virou piada. Juiza ignora, agora, até a Ficha Limpa

Gravações do MP mostram que Jardel negociou 10 cargos para votar favorável ao aumento do ICMS