Quem disse que política não é engraçada?

A proposta de ressuscitar a Arena, Aliança Nacional Renovadora, que está sendo capitaneada por uma caxiense, Cibele Baginski é no mínimo risível. Não pelo fato de criar mais um partido. Achamos esse um direito inalienável do brasileiro e não concordamos com a tese de que os 29 partidos brasileiros são demais. O problema da política partidária brasileira é que ela é feita por personalidade e não por propostas políticas.  Partidos com ideologia são menos de 10.

Mas voltando a Arena e a sua refundadora, a matéria da edição de ontem da Folha de Caxias mostra como a cidadã tem pouco conhecimento em política e como sua visão é baseada pelo senso comum. Em um momento da matéria Cibele fala que um dos motivo para a recriação do partido é que é necessário um partido, “com um perfil mais conservador e nacionalista”.

Bom, né? Já tem partidos com esse perfil. O que é ser conservador hoje em dia? Só a TFP, Tradição, Família e Propriedade e a Opus Dei, atualmente são. Nacionalista? O PT, PDT, PMDB (no seu programa), PTB, PP, só para citar os maiores o são programaticamente.

E a Arena o que era na verdade? Bom ela foi criada pelo Ato Institucional número 2 que extinguiu os 13 partidos existentes na época e institui um regramento, que na prática acabou possibilitando a criação de apenas dois partidos. Uma tentativa do deputado mineiro Pedro Aleixo em criar o Partido Democrático Republicano acabou fracassada.

A Arena nasce com um discurso de apoio total ao regime militar, claro era seu braço cívil. Em seu manifesto de criação os "arenistas", como passaram a ser chamados, utilizam-se dos mesmos discurso falhos, que hoje são comprovadamente mentirosos, e que deram a base política ao golpe.

"Expressão política da Revolução de Março de 1964, que uniu os brasileiros em geral, contra a ameaça do caos econômico, da corrupção administrativa e da ação radical das minorias ativistas, a ARENA é uma aliança de nosso povo, uma coligação de correntes de opinião, uma aliança nacional".
Porém havia uma grande divergência no interior da Arena. Um grupo que queria devolver logo o governo aos cívis e outro que defendia que o regime militar se perpetuasse até o fim do perigo "subversivo". Isso era eufemismo para assassinato e deportação de inimigos do Estado.

A Arena governou, quase sem oposição o Brasil de 1966 até 1978. Foi, portanto, a grande responsável pelo endividamento externo brasileiro, pela emaranhamento da corrupção no aparelho estatal (apesar de não admitirem isso) e de grandes obras, algumas de importância questionável.

Como o passar do tempo a Arena foi mudando seu discurso até que, em 1976, em sua última convenção ela renova seu programa político, tendo como relator o gaúcho Jarbas Passarinho. Entre outros pontos dois se destacam:
- A busca de uma democracia representativa, repúdio à corrupção, apoio à soberania nacional, à integridade territorial, à integração nacional e ao desenvolvimento econômico com paz social.

- A opção pela economia de mercado e pelo crescimento econômico acelerado, apoio à correção dos desequilíbrios setoriais e regionais, à ocupação da Amazônia e à reforma agrária.

Incrível né? Em seu último programa, a Reforma Agrária, um dos motivos da derrubada de Jango 12 anos antes figurava no programa de governo da Arena.

Com o fim do bipartidarismo a Arena vira PDS, que vira PPR, depois PPB e depois PP. Um grupo se separou quando era PDS ainda e formou o PFL e que depois iria se tornar o Democratas, DEM.

Foi dalí que a Cibele surgiu. Há menos de 1 ano atrás era pré candidata a vereadora pelo DEM, se desentendeu com partido e começou a ser flertada, ou fletar o PCdoB. No seu álbum do Facebook tem a foto abaixo com o ex deputado Aldo Arantes, militante do PCdoB, autor da lei que garante a organização das entidades estudantis e que foi perseguido, preso e torturado pela ditadura militar que a Arena apoiava.
Todos estão juntos a uma bandeira da UNE, que a mesma ditadura militar fechou.

Cibele Bagiski (direita) quer refundar a Arena que fechou a UNE

E hoje a Cibele quer refundar a Arena. Se a política não tem um lado cômico, no mínimo, é irônica.


Comentários

  1. Olá, estou participando do movimento para a refundação do ARENA e gostei de ver que tem a liberdade para poder expressar o que pensa.

    Não, realmente não concordo com o excesso de partidos recentes, acredito que uns 10 já está mais que suficiente, pois não é um número muito baixo e nem muito alto, o que dá pra fazer todos os partidos disputarem com melhor força e sem tirar os votos de boas pessoas que estão em pequenos partidos.

    Atualmente não existe sequer um partido de direita no Brasil, o PP e o DEM se dizem como, mas preferem recorrer a esquerda para poder garantir seus mandatos. Partidos que tem o Nacionalismo no seu programa de governo, são vários, mas não vejo um que realmente ponha em prática e assuma o papel de um Nacionalista.

    Em outra entrevista mais recente da própria Cibele, é perguntada sobre tortura, ela sabiamente diz que a tortura é errada.

    Diversas obras foram criadas na época da ditadura, entre elas diversas que poderiam ser evitadas, como a transamazônica, mas também houveram boas obras. A propósito, é possível citar algum governo que só tenha feito boas obras?

    A Cibele tem conhecidos e amigos do PCdoB, mas ela admite que não foi para o partido pois não daria certo. Nessa foto está mais uma comprovação de que o ARENA atual se difere em algumas coisas do antigo, pois vemos que a repressão já não é tão necessária, a necessidade é a busca de aliados, e não países sustentados pelo Brasil.

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  2. "..pois vemos que a repressão já não é tão necessária" .. tá de tiração rsr fale-me mais!!

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  3. Ela foi sim filiada ao PC do B. A ficha de filiação está aqui.
    http://roberto-cavalcanti.blogspot.com.br/2013/09/novos-escandalos-no-seio-da-arena.html

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