Ex deputado afirma que foi torturado na presença de empresários da Fiesp


Carlos Araujo fez ontem uma corajosa e inquietante denúncia, “Eu mesmo fui torturado na presença de empresários da Fiesp. É uma coisa sádica. Além de financiarem a Oban (Operação Bandeirantes) e o DOI-Codi, ainda assistiam às torturas. Eles se envaideciam com isso”.

O ex-deputado coloca fundo o “dedo na ferida” da ditadura militar ao atestar que não foi apenas o Estado brasileiro responsável pela repressão e pela tortura, mas que o apoio das corporações empresariais foi fundamental para tal. Pode-se imaginar que o dinheiro para financiar tal atos de selvageria não chegavam por meios legais e, com certeza, não chegavam na sua totalidade ao “seu destino”.

A situação relatada por Araujo, porém não é desconhecida. A Operação Bandeirante (OBAN), que contava com financiamento de importantes conglomerados brasileiros: Grupo Ultragás, Ford, GM, Grupo Camargo Corrêa, Grupo Objetivo, Grupo Folha, Amador Aguiar (Bradesco), entre outros, operou por 10 anos, caçando e torturando os “inimigos do regime”. Sem vínculos formais, ou legais, a OBAN era em essência uma formação paramilitar de ação direta e violenta à margem da lei, o que lhe dava agilidade e brutal eficácia.

O cinema nacional também escancarou a relação do empresariado com a ditadura militar. No filme “Pra Frente Brasil” (1982), de Roberto Farias, há um cena onde um preso político é torturado na frente de empresários, para deleite da plateia. O filme foi censurado por ser “capaz de provocar incitamento contra o regime vigente, a ordem pública, as autoridades e seus agentes”. Com uma dura batalha na justiça e atiçando a opinião pública, o filme é finalmente liberado para exibição (um importante teste a “abertura lenta e gradual”).

Porém a sua liberação não passou ilesa aos defensores do regime. Celso Amorim, que seria Ministro das Relações Exteriores do Governo Lula, era presidente da Embrafilme na época, e viu-se obrigado a abandonar o cargo da estatal em abril de 1982 por ter aprovado o financiamento público para a produção.

Há muita “verdade” escondida nos porões da história que necessitam ser tiradas das sombras. Somente com a apuração dos fatos podemos evitar que as novas gerações achem que a violência e a repressão é a melhor forma de debate político.

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