O problema não são os “bondes”. São os bondes que chegaram no Centro


A falta de opções para a juventude da periferia de Caxias do Sul, qu enão pode comprar lazer, faz com que ela se reuna
em "gangues", "grupos", "bondes", ou qualquer outro nome para extravasar a angústia da falta de visão de futuro. Isso
leva, inevitavelmente a violência. Mas eles não são tão clandestinos assim. A galera acima tem até blog.

Essa é a verdade inconveniente. Ninguém vai admitir mas a polêmica em torno dos “bondes” de jovens, que provocam atos de violência, é que eles chegaram até o Centro da cidade, e outros bairros “nobres”, como Lourdes e São Pelegrino, e isso começou a incomodar a “elite” caxiense.

Desde o começo desse ano o assunto começou a ganhar as páginas de jornais, os microfones das rádios e, uma vez que outra, discursos na Câmara de Vereadores. A gota d'água, para a elite, foram as ações no último feriado, 1º de Maio. Apressadamente muitos culparam o passe livre nos ônibus pela violência dos jovens.

Uma analogia válida para essa situação é a do Crack. A droga surgiu nos anos 80 nos Estados Unidos. Chegou, nos anos 90, no Brasil. No final do século já haviam usuários em Caxias do Sul. Mas por que somente depois de 20 anos começaram a existir campanhas do tipo “Crack nem pensar”? Porque foi nessa época que a droga atingiu a classe média e alta. Quando só filhos dos mais abastados economicamente se perderam para a droga o Estado foi chamado para resolver o problema. Enquanto o Crack só matava preto, pobre e trabalhador, não causava comoção em ninguém.

Com os bondes acontece a mesma coisa. Eles já existem há muitos anos. Tinham outros nomes: gangues, turmas, etc. Enquanto a violência ficava restrita as periferias não haviam colunistas de jornal, vereadores, nem “forças vivas” se interessando sobre o assunto.

A solução para o problema não virá com a eugenia social, defendida por alguns, que é manter os jovens na periferia para esconder o problema. A falta de espaços de lazer para a juventude, principalmente a da periferia, que não tem dinheiro para “comprar lazer”, geram movimentos de indignação, que erroneamente descontados, acabam virando ações violentas.

Caxias conta com inúmeros espaços potenciais para lazer nos bairros de nossa cidade. Contudo a maior parte deles está inacessível. Temos dezenas de Centros Comunitários, construídos com o dinheiro público e quando a chave foi entregue ao presidente de bairro o Centro Comunitário passa a ser sua propriedade privada. Temos também todas as escolas que, invariavelmente, permanecem fechadas e quando abrem as ações são tão deslocadas as realidades dos jovens que não atraem ninguém.

Precisamos de espaços onde os próprios jovens sejam fomentadores e organizadores de suas atividades. Essa convivência social é fundamental para a construção da sua identidade.

Infelizmente essa não será a ação. Mais repressão e mais exclusão são as palavras mais usadas pelos eugenistas sociais. A solução mais simples é esconder o problema nas periferias.

Comentários

  1. A impressão que eu tenho sendo morador da região dos bairros São Caetano/Arcobaleno é de que caxias do sul não possui secretaria de esporte e lazer, pois há tempos reivindicamos quadras de esporte e nunca fomos atendidos. No momento o Kalil Sebhe e o Waschinton Stecanella só tem olhos pra essa maldita copa, enquanto isso nossa juventude ocupa seu tempo frequentando bares e esquinas do bairro pois não tem dinheiro para comprar lazer.

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  2. caxias com seus 500.000 habitantes deveria ter uns 20 parques iguais ao Macaquinhos, o lazer na periferia é praticamente nenhum, ainda por cima o secretario de esporte ta mais preocupado em acabar com as Blitzs de trânsito do que em construir quadras e parques nos bairros mais pobres. Então da-lhe repressão nos bondes e nas pichações.

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