Quem não se movimenta não sente as correntes que o prendem

A frase de Rosa Luxemburgo encaixa-se no momento de manifestações que o Brasil passa hoje. Os atos públicos que se espalham pelo Brasil, e que inicialmente protestavam contra o aumento das passagens de ônibus, agora têm como pauta todas as insatisfações represadas ao longo de muitos anos.

Corrupção, gastos em demasia com a Copa, o caos da saúde.... tudo é motivo suficiente para protestar. Há muito tempo não se viam mobilizações populares tão espontâneas e com tamanha força.

Os descontentamentos que movem os manifestantes já estão aí há muito tempo e decorrem da má condução dos governos no atendimento das mais essenciais necessidades humanas. Aliás, não podemos esquecer também que o sistema capitalista é a engrenagem que move o desrespeito aos direitos humanos e que se alimenta da miséria e das diferenças de classes sociais.

Os protestos que rodam a "pátria amada" têm muito a contribuir para um povo que muitas vezes parece inerte frente a tantas injustiças. Nossas autoridades, bem ou mal, estão levando uma "sacudida" e um susto com a pressão social por melhorias, por justiça.

Porém, alguns pontos têm de ser analisados nessas manifestações. Nem todos os manifestantes, notoriamente, têm consciência dos motivos por que protestam. O que sai da boca do senso comum é um "chega de injustiça", "chega de robalheira", esse país é uma m... As mazelas estão aí há muito tempo. O problema, é que as mobilizações têm de aparecer no momento certo e com foco.

Por exemplo, em Caxias o Prefeito Alceu já estipulou que as passagens serão reduzidas para R$ 2,75. Uma das lideranças do ato que acontecerá na cidade na sexta-feira disse, porta to, que o preço das passagens não será o mote do ato em Caxias porque o Prefeito já baixou os valores. Ok. Mas se as manifestações tivessem ocorrido na hora certa, há algumas semanas atrás, talvez teríamos conseguido a redução das passagens para R$ 2,70.

Na questão política, o senso comum de repúdio à corrupção e à politicagem tem de evoluir para a luta pela reforma política. Com o voto em lista e o financiamento público de campanha, muitas das mazelas políticas brasileiras se extinguiriam.

Foco. Eis o que falta a essas mobilições. Elas têm que ocorrer no momento da ameaça, ou para mudar algo pontualmente. Mas se forem sempre assim, com muitas pautas misturadas, dificilmente surtirão os efeitos que almejam.

Outra questão que não pode passar batida, é que se nota que boa parte dos manifestantes é de classe média e classe média alta. Será que a burguesia se solidariza tanto assim com as injustiças que não lhe tocam ou têm outros interesses não tão puros?

Mudanças estruturais em nosso país é o que precisamos. Que essas mobilizações populares sejam um bom presságio para os muitos combates que ainda teremos de enfrentar. Afinal, as oligarquias dominantes não se amedrontam facilmente e estão sempre prontas para puxar o tapete dos cidadãos em prol de interesses privados.

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