Crônica do Santa Catarina, ou o dia que o pijama foi parar na delegacia

Faz cinco dias que estamos lendo a repercussão do caso da revista das mochilas dos alunos na Escola Estadual Santa Catarina. A diretora da escola, Ione Brandalise Biazus, foi alçada, inclusive, ao status de "Dom Quixote da boa educação", já que ela estava lutando, sozinha, contra um modelo onde os pais, o governo, a sociedade, não se interessa pela educação.

Pouca gente se perguntou, e os meios de comunicação não se deram o trabalho, de falar com os outros envolvidos no caso, os alunos. Nem ao menos se preocuparam e desvendar o que realmente tinha acontecido.

Se você acredita que a diretora da escola estava preocupada com a entrada de drogas, ou até armas, na escola. Lamento. Essa não é toda a verdade.

O imbróglio todo começou com uma "tradição" que os terceiros anos do ensino médio fazem há bastante tempo. A brincadeira, infantil diga-se de passagem, e copiada de seriados de humor norte-americanos, é de usar pijama em um dia de aula.

Imaginem o horror numa escola que a diretora acha que é a última bolachinha recheada do pacote um dia onde todos os alunos estão de pijama. Mais horrorizada ela fica quando meninos usam pijama de menina e vice-versa.

Obviamente nenhum aluno vai vestido de pijama para a escola. Eles levam na mochila e trocam antes de entrar na sala de aula. Para evitar essa cena é que foi implementada a revista das mochilas no dia programado desse trote. E deu no que deu. Se a preocupação fosse, realmente, pela segurança dos estudantes não haveria uma gritaria generalizada de pais e de alunos. O barulho só foi grande porque algo, realmente estava muito errado.

O erro é a absoluta falta de controle da direção da escola em relação à comunidade escolar. Em sua entrevista ao jornal Pioneiro, sábado (22) e reprisada pela Zero Hora de hoje (24), ela fala de uma série de ações que a escola proporciona através de atividades extracurriculares, fala de palestras de conscientização, de valorização, etc. Parece que nada disso fez muito efeito, já que a imensa maioria optou pela brincadeira.

Há muito tempo a Escola Santa Catarina acha que deve trabalhar fora das diretrizes estabelecidas pelo governo (qualquer que seja). Há cobranças ilegais de taxas, imposições de regras e até um pouco tempo atrás pagamento, por fora, para professores.

Nada disso parece ter o efeito apregoado. Muitos antes pelo contrário. Tem demonstrado que a direção da escola não se relaciona com a comunidade escolar e isso acaba gerando momentos de tensão que são resolvidos, como o caso, parando todo mundo na delegacia.

Em sua entrevista a diretora tenta desesperadamente dizer que a sua preocupação é a entrada de drogas dentro da escola, como se a Escola Santa Catarina fosse uma cracolândia, a insistência é tanta por que ela precisa justificar que a caça ao contrabando de pijama foi parar na delegacia.

Infelizmente a reação de uma parte da sociedade, principalmente aquela que não tem nada a ver com a escola, é de apoiar atitudes destrambelhadas como essa. O principal discurso é "quem não deve não teme". O discurso tem que ser justamente o contrário. Estudantes não são criminosos por antecedência. Não podem ser considerados todos culpados, para que alguns, os verdadeiros culpados sejam punidos. A política implementada é a de jogar a água, a bacia e criança fora. A mensagem que a direção está passando é: Se você tem alguma relação de poder, você deve exercê-lo para impor sua verdade aos outros.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Lei de Responsabilidade Fiscal, de Sartori, paralizará o Estado

Caso Paese já virou piada. Juiza ignora, agora, até a Ficha Limpa

Gravações do MP mostram que Jardel negociou 10 cargos para votar favorável ao aumento do ICMS