Não esqueçam do Sartori

Por Antônio Escosteguy Castro, SUL21

A combinação entre a maior cheia dos últimos 70 anos e a lambança brasiliense de Cunha e seu Impeachment Express teve como consequência tirar Sartori e seu governo do noticiário. Verdade que também houve um pequeno esforço da imprensa local para que Sartori ficasse escondido num cantinho.

Imaginem vocês se um Senador da República que tivesse dado um voto decisivo a favor do governo Dilma fosse premiado, imediatamente, com uma viagem de 10 dias a Europa. Seria um mega escândalo. Arnaldo Jabor iria às lagrimas na telinha. Bonner embargaria a voz, em tom fúnebre. Davi Coimbra escreveria mais um de seus libelos contra o PT. Pois Jardel votou, foi e voltou e apenas algumas notinhas de pé de página comentaram a possibilidade de que dita viagem, quem sabe, pudesse ter tido alguma relação com seu decisivo voto a favor do aumento do ICMS. Se Dilma negocia com parlamentares , pratica uma criminosa distorção da democracia. Se Sartori faz o mesmo , é a demonstração de habilidade política de um governador bem intencionado. E segue o baile.

Mas o Governo Sartori continua. E mal. Há várias semanas se arrasta a novela da aprovação do projeto que reduz o limite das RPVs para 7 salários mínimos. A incapacidade do governo em votar este projeto, sessão após sessão, mostra o grau de enfraquecimento de Sartori, mesmo após a aprovação do aumento do ICMS. Pela racionalidade fiscalista , o projeto das RPVs é quase tão grande quanto o aumento do ICMS. Poupará cerca de 1 bilhão de reais por ano. Na lógica do Governo Sartori, é indispensável, mas este não consegue angariar apoio suficiente para a aprovação.

O que ocorre é que o Governo continua sem apresentar um projeto minimamente coerente e completo para enfrentar a crise. Não basta apenas aumentar a arrecadação e diminuir os gastos. A incapacidade de Sartori de apresentar um programa positivo ao Estado leva a que a base governista hesite em aprovar mais uma medida altamente impopular , como tirar o pagamento do dinheiro judicialmente ganho pelas velhinhas tricoteiras.

Sartori errou gravemente, também, ao não aproveitar o momento da crise mais aguda do atraso de salários para dar início a uma negociação a sério com o Governo federal para resolver o pagamento da dívida e das compensações da Lei Kandir e da Previdência. Optou pelo confronto e pela judicialização, apostando na queda de Dilma e no impeachment a ser encaminhado por Eduardo Cunha. Dia a dia vem derretendo esta possibilidade. Hoje , são muito poucos os que acham que Dilma cai até o fim do ano. E se não cair agora, fica até 2018…

É bem possível que Sartori tenha perdido o trem da História. Se em setembro , com o estado em chamas e com a ira santa dos injustamente endividados, tivesse convocado a União para a Mesa de Negociações, talvez tivéssemos resultados razoáveis num prazo idem. Mas decidiu seguir a linha do PMDB gaúcho e apostar que Dilma cairia.

Tudo indica que o próximo ano aqui nos pagos será ainda mais tenebroso. Pobre Rio Grande.

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