O trágico legado do golpe militar
No dia 1º de abril de 1964 João Goulart, um presidente legítimo
do país, foi deposto por um golpe militar que dominaria a vida pública
brasileira por 21 anos. Quase mais rápido que a velocidade da luz os meios de
comunicação da época, a elite econômica e os setores mais reacionários saíram em
apoio aos usurpadores do governo.
Além da democracia, da liberdade de expressão, do direito a
manifestação e mesmo o direito de falar mal do governo (que hoje todo mundo
tem), o golpe militar destruiu o Estado brasileiro enquanto instituição. Grande
parte dos esquemas de corrupção que estão enraizados, até hoje, na república,
foram plantados durante o regime militar principalmente na segunda fase dele.
Como não havia controle externo do poder executivo ao serem
lançados projetos de grandes, e até mesmo pequenas, obras públicas, foi sendo
criado uma rede de favorecimento para empreiteiras e atravessadores que faziam
as “pontes” com o militar de plantão.
Nas capitais, áreas de segurança e cidades de fronteira não era
possível eleger prefeitos, mesmo nas forjadas eleições que aconteciam de tempos
em tempos. Esses
“mandatários” eram indicados pelo governo central criando os currais eleitorais
e favorecendo o nepotismo e o apadrinhamento.
Para ser mais fácil de controlar foram criados os grandes
monopólios de mídia. Pois deixar na mão de 7 famílias, todas oriundas das
oligarquias, era bem mais tranqüilo censurar um ou outro deslize de um
jornalista mais empolgado. Por causa disso a RBS, por exemplo, é dona de jornais,
inúmeras rádios, emissoras de teve e outras plataformas. Um bom lucro para quem
já não tinha interesse em defender a democracia.
O governo militar não acabou porque os generais ficaram
bonzinhos e resolveram colocar um pijama e voltar para casa. Ele terminou
porque a economia brasileira na metade dos anos 80 estava em frangalhos. É
dessa época a moratória ao FMI, a rolagem da dívida externa, o início da
hiperinflação que só foram superadas décadas depois.
Com a chegada de Jimmy Carter ao poder nos Estados Unidos em
1977 dificultou a vida do regime militar no Brasil, pois ele foi o primeiro
presidente americano, depois de John Kennedy que não deu apoio incondicional ao
governos ditatoriais da América Latina.
A dívida externa brasileira chegou a US$ 90 bilhões. Para
pagá-la, eram usados 90% da receita oriunda das exportações, e o Brasil assim
entrou numa fortíssima recessão econômica que duraria até a década de 1990 e
que tem como maior fruto o desemprego, que se agravou com o passar dos anos.
Além de mortes, torturas, desaparecimentos, o governo
militar ainda deixou um legado de fortalecimento da oligarquia, enfraquecimento
das instituições da sociedade, monopólio da mídia e quebrou o país. E ainda tem
gente que acha que isso foi bom.
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