Imigração, colonização e preconceito

Caxias do Sul é uma das principais cidades que "recebem" imigrantes mundo afora. Há 140 anos, foram os imigrantes italianos, e ao longo desses anos, poloneses, alemães, franceses, espanhóis, português. Imigrantes do velho mundo: a Europa. Mas, antes dos 140 anos da imigração italiana, por aqui passaram, no chamado "Campo dos Bugres", padres jesuítas, "bandoleiros" da coroa portuguesa e espanhola, e outros, colonizando o Brasil e enfrentando os verdadeiros donos dessas terras: os índios. Não menos importantes, os negros descendentes da escravidão, também ajudaram a miscigenação dessa região e com seus braços ajudaram o desenvolvimento da serra gaúcha.

Na história contemporânea, a migração de regiões como da fronteira e dos Campos de Cima da Serra são bastante frequentes. Caxias recebe cerca de 30 mil novas famílias/ ano dessas regiões.

Nesse último período, a cidade vem convivendo com novos imigrantes, os haitianos, ganeses e senegaleses. Segundo o CAM - Centro de Atendimento ao Migrante, vinculado à Igreja Católica, são cerca de 3 mil imigrantes que chegaram desde 2012 desses países. O que chama atenção é que 95% deles estão empregados e quase todos estão instalados. Ainda há alguns não contabilizados que optam por vendas ambulantes informais, por terem experiência nesse ramo. No entanto, sofrem com a precarização desse trabalho.

A chegada dos africanos e haitianos teve grande repercussão na cidade, chegando a polêmica a ser tema de matéria do Fantástico, da sonegadora Globo. Na matéria veiculada, ficou nítido o preconceito das falas que foram ao ar. Alguns culparam o programa, que teria privilegiado somente os posicionamentos mais preconceituosos.

A notícia de que essa semana chegaria mais um ônibus desses imigrantes na cidade, novamente gerou uma série de comentários xenófobos nas redes sociais. O ônibus chegou terça-feira (26/05) com apenas 5 ganeses, recebidos na rodoviária e encaminhados para convívio com seus amigos e familiares.

Quem migra, quem sai de sua cidade ou país de origem busca algo melhor, busca trabalho e condições melhores de vida. Muitos são refugiados e fogem de guerras civis e situações extremas de exclusão ou perseguição. Foi assim que os excluídos e "sem terras" italianos chegaram aqui. Trabalharam muito e deram sua imprescindível contribuição ao desenvolvimento da nossa região.

A ironia é que hoje tem descendente de imigrante italiano que, além de criticar a vinda desses imigrantes negros, também critica programas como o Minha Casa Minha Vida, que nada mais é que o apoio do Estado aos cidadãos para que construam suas vidas de forma digna. Lá atrás, quem comprou terras por preços subsidiados e em prestações a perder de vista, também ganhou um "Minha Terra Minha Vida".

Os imigrantes haitianos, ganeses e senegaleses fazem o mesmo o que esses imigrantes italianos fizeram há 140 anos. A diferença é que são negros, de outros países. Naquele período os italianos perceberam no Brasil condições melhores do que as que tinham na Itália. Os haitianos e senegaleses também enxergam no Brasil uma condição melhor para suas vidas. 

O país melhorou muito na última década e o mundo percebeu isso. Quem não lembra de brasileiros que tentavam entrar, inclusive clandestinamente, em países da Europa e EUA para mandar recursos para familiares aqui no Brasil? Hoje, felizmente, os brasileiros vão a esses países com muito mais frequência, mas para estudar, fazer turismo e intercâmbio pelo programa do governo federal Ciência Sem Fronteiras. 

É inaceitável o xenofobismo e bairrismo de alguns caxienses, pois nem historicamente nem economicamente faz sentido tamanha repulsa. Infelizmente parecem mais resquícios de fascismo e racismo.

Desejamos as boas-vindas a todos imigrantes, italianos, senegaleses, ganeses e haitianos!!! Sejam felizes em nossa Terra! Afinal, o mundo é um só!

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