A nova Arena e o Ovo da Serpente

O diretor alemão Ingmar Bergman, em seu filme de 1977, mostra uma Alemanha pós Primeira Guerra Mundial, arrasada pela guerra, desesperada pela fome e pelo desemprego. Nesse ambiente pós apocalíptico o Ovo da Serpente mostra a organização do que seria conhecido como Partido Nazista. Sua ideologia, do partido Nazista, era simples de ser entendida. Eles defendiam a recuperação da moral alemã, o progresso da nação e a volta de tempos onde a Alemanha vivia em “paz” (obviamente excluíam que foi justamente essa “paz” que levou a guerra). Além disso a culpa de todos os problemas da Alemanha eram de um grupo de pessoas que deviam ser odiados, os judeus.

Apesar de vivermos, no Brasil, uma situação muito diferente da Alemanha dos anos 20 do século passado, a refundação da Arena, que aconteceu na semana passada mantêm muitas semelhanças com a raízes ideológicas que deram origem ao movimento nazista.

Estou querendo dizer que os fundadores da nova Arena são nazistas? Não, não são nazista, mas comungam, entre si, de vários componentes ideológicos. Qual a diferença de dizer que o problema de um país são os judeus ou os petistas? Nenhuma! Todo o movimento “anti” alguma coisa é um movimento nazista na sua essência pois defende que a coisa que se é “anti” seja exterminada. Se é em câmara de gás ou na política mesmo é só uma diferença de oportunidades.

A nova Arena possui (como está no seu estatuto) como ideologia o conservadorismo, nacionalismo e tecno-progressismo (seja lá o que isso seja) tendo para todos os efeitos posição de direita no espectro político, devendo as correntes e tendências ideológicas ser aprovadas pelo Conselho Ideológico (CI), visando a coerência com as diretrizes partidárias. Portanto, mais uma vez se vê fortes ligações com o partido nazista, criado por Hitler.

E se tivesse outro nome?

Se a Cibele e sua turminha tivessem escolhido outro nome a repercursão seria a mesma? Com certeza não. A escolha do nome foi fundamental para ganhar seus 15 minutos de fama. Caso contrário a fundadora e sua turma seriam relegados a seção “Bizarro” e não na seção “Política” dos noticiários. Porém não seria menos ruim sob o ponto ideológico. Importar a linha ideológica que forjou a Arena como sustentáculo da ditadura militar brasileira é uma afronta a tudo que foi aquele regime.

A ditadura militar no Brasil não foi uma benção foi uma tragédia (leia aqui). Muita gente tenta ser saudosista e costuma dizer que “naquele tempo não havia violência, nem corrupção”. Mas esquecem de que “naquele tempo” era proibido falar sobre corrupção (onde os militares estavam envolvidos) e na violência (onde as mãos dos mesmos estavam cheias de sangue). As pessoas confundem a não existência com a proibição de divulgação.

Cibele costumeiramente tenta dizer que a Arena, antiga, estava no contexto da época. Ela esquece por, exemplo, que a Arena foi criada, após o golpe, para dar uma aura de “democracia” no que seria uma tirânica ditadura. A Arena surge apenas com o AI 2 (Ato Institucional número 2) onde são extintos todos os 13 partidos existentes e são criados dois apenas: Arena e MDB. Nos círculos políticos se diz que era o partido do “Sim” e do “Sim Senhor”.

Cada vez mais parecido com uma seita

A organização da nova Arena não se diferencia muito de uma seita. Sua instância superior, acima inclusive da Convenção onde participariam todos os filiados, ou no mínimo seus representantes, é o Conselho Ideológico composto por cinco membros vitalícios (é isso mesmo que você leu) e mais quatro indicados pela convenção.

Os membros vitalícios já estão fixados no estatuto e cabem a eles e aos outros quatro: nomear o presidente e o vice-presidente nacionais da sigla, sancionar ou vetar decisões de instâncias inferiores, inclusive de convenções e aprovar as correntes e tendências que venham a se formar internamente. E entre as competências do diretório está a de "obedecer e fazer cumprir as determinações do conselho ideológico".

Esse modelo de organização está mais próximo do Talibã do que de uma organização partidária contemporânea, ou mesmo muito antiga. Demonstra mais uma vez o desprezo pela democracia, pelo direito a divergência e pelas liberdades individuais. E isso é muito perigoso pois sistemas democráticos, mesmo com falhas, como o brasileiro são bastante vulneráveis a “salvadores da pátria” ocasionais.

Além disso se olharmos as fotos dos integrantes do primeiro diretório podemos perceber que são na maioria homens, brancos (só não são gordos pois isso não é uma característica brasileira). Se fossem americanos eles estariam no Tea Party (partido de extrema direita americana, que inclusive levou a uma grande derrota dos Republicanos nessa eleição).

Bizarrices programáticas

O programa nacional da Arena é recheado de bizarrices. Tem que ter muita imaginação para propor o que está escrito lá. Além do discurso comum entre os neo-nazistas como a redução da maioridade penal e o fim de todas as cotas encontramos perolas como:

Retorno ao currículo escolar da disciplina de Educação Moral e Cívica e do Latim: Não sei se você leitor teve Moral e Cívica na escola (quando ela foi criada pelo regime militar), mas no meu tempo ela tinha utilidade absolutamente nula e continuará tendo a não ser fazer doutrinação ideológica (que é o que tentava fazer no tempo dos milicos). A volta do Latim chega a ser cômica.

Opção aos alunos de estudar seu idioma estrangeiro de origem. Essa proposta não causou espanto para a maioria dos veículos de comunicação, por incrível que pareça. Mas ela representa como a mente distorcida desse povo funciona. Além de ser totalmente Europacentrista, sim pois a Cibele acha que todo o Brasil é formado por imigrantes europeus como ela, fica a pergunta: Teremos ensino de línguas africanas e indígenas nas escolas? E japonês, chinês, árabe, russo, hebraico? Esquecem os grandes elaboradores dessas asneiras que o Brasil é um país multicultural e de várias etnias reunidas, ou será que há uma raiz xenofóbica também?

Reaparelhamento e modernização do sistema de saúde e revisão do sistema de atendimento público. Eu só consegui entender uma coisa nessa miscelânea: Fim do sistema público universal de saúde. Pobres vocês estão condenados a mais filas.

Quem é Cibele Bumbel Baginski?

Cibele é estudante de direito da UCS (Universidade de Caxias do Sul). Bolsista do ProUni, inclusive, ou seja ela é um cotista, apesar de defender o fim de todas as cotas. Contraditório não? Mas ela parece não se importar, ou demonstra total falta de conhecimento sobre como funciona o programa. Depois de muito pressionada disse que se sentia agradecida ao presidente Lula pelo ProUni.

Cibele foi do Diretório Acadêmico Percy Vargas de Abreu e Lima, do curso de Direito da UCS. Percy, foi vereador em Caxias do Sul e cassado, olhem só, pelos militares, sendo inclusive preso pelo regime. Cibele comprou uma briga no diretório depois de publicar a versão eletrônica no Mein Kampf (Minha Luta) de Hitler no site do DA.

No espectro político se filiou no DEM, onde tinha pretensões de ser candidata a vereadora, flertou com o PP e até com o PCdoB. Sua confusão ideológica é demonstrada no seu álbum de fotos do Facebook onde ela aparece do lado das mais variadas personalidades políticas do estado, pessoas essas que hoje ela repudia quase em sentimento de ódio.

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