Shopping San Pelegrino reforça a marginalização dos jovens

Salta aos olhos que há algo errado na decisão da administração do Shopping San Pelegrino em não permitir mais a circulação de crianças e adolescentes dentro do estabelecimento se não estiverem acompanhados de parentes até o terceiro grau..

Sob o argumento de que o que se quer é manter a segurança do local, o Shopping manda um recado bem claro para a população e aos possíveis frequentadores: só é bem vindo quem tem dinheiro para gastar e a elite. Jovens da periferia devem ficar bem longe.

Claramente há uma discriminação geracional, na medida em que ceifa os jovens de acessar um dos poucos espaços disponíveis para o seu lazer. Assim como, de forma velada, revela uma discriminação de classes, porque se quer evitar, na verdade, os jovens baderneiros, os bondes, os favelados. A inconstitucionalidade da medida é evidente, pois discrimina pessoas em razão de sua idade e lhes tira o direito de ir e vir.

As políticas públicas para a juventude são extremamente escassas. Caxias do Sul quase não proporciona espaços de lazer e diversão para os jovens. Ir ao shopping é uma das poucas opções. Cinema e alimentação é o que os jovens consomem principalmente. Consumiam. Porém, falta acolhimento a esses jovens que já são discriminados no olhar da elite e por esses tipos de medidas que não contribuem para sua inserção em todos os espaços. Assim, os atos violentos ou ameaçadores dos bondes são, muitas vezes, uma resposta à segregação social que sofrem diariamente.

Por outro lado, chama a atenção a declaração do Secretário Municipal da Juventude, Vinícius Iraí que, em vez de se posicionar de forma contundente em defesa dos jovens, restringiu-se a dizer: "Me parece configurar uma restrição ao direito de ir e vir. Vamos abordar este assunto na reunião mensal do Conselho Municipal da Juventude na segunda-feira" (dia 18 de maio)

Mais uma vez, a iniciativa privada, que representa as posições mais conservadoras, prefere tomar uma atitude que ceifa o direito de alguns em prol da "segurança" de seus clientes, ao invés de tomar providências no sentido de oferecer segurança a todos que frequentam seu estabelecimento e acolher os jovens da periferia.

Ao Shopping, cabe repensar a medida e estudar estratégias diferentes para resolver as situações de risco e insegurança que aconteciam no local e não simplesmente empurrar o problema de volta para a periferia.

Aos indignados, resta o boicote.

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