Patrono da Feira do Livro é acusado em processo de violência contra mulher

A Marcha Mundial de Mulheres, movimento feminista que se organiza local, nacional e internacionalmente, lançou uma carta aberta denunciando a escolha do escritor Uili Bergamin. O fato é que ele está sendo acusado por um caso de violência contra a mulher.

Uili foi condenado em primeira instância, ele recorreu e aguarda resposta do Tribunal de Justiça.
A Marcha afirma que a violência é real e que, como patrono é um símbolo de uma evento da cidade, num ambiente de referência intelectual o caso fica ainda mais preocupante.

Uili já foi patrono em outros feiras na região (Cotiporã, Veranópolis e Flores da Cunha) mas o fato nunca veio a público, a não ser durante a eleição da Academia Caxiense de Letras (ACL), onde seu nome foi questionado para fazer parte da diretoria. A ACL evita falar da polêmica.

As manifestantes tem toda a razão. Não se pode pedir execração eterna a quem comete algum crime. Nós aqui sempre questionamos a onda de linchamentos, sejam morais ou reais. Mas a Feira do Livro é uma instituição pública, realizada com recursos públicos e seu patrono são referências da sociedade. Ou eram.

Parte desse problema é a forma de escolha. Somente seis pessoas participam da escolha, desses 4 são diretamente ligados ao governo, ou seja, ser patrono da Feira do Livro já virou um jeito de fazer um agradinho a um ou outro amigo do governo.

Mas essa não é a primeira vez que Uili se envolve em polêmica. Em 2005 ele enviou um release para a imprensa dizendo que havia ganho o prêmio Jabuti, o mais importante prêmio de literatura do país, daquele ano com o livro "O Sino do Campanário". A matéria saiu no Pioneiro e em toda a imprensa. Acontece que ele não tinha nem aberto as inscrições para o prêmio naquele ano. O jornal teve que fazer uma errata. A história é relatada na monografia de Marjuliê Martini como um caso de falha de conferência de informação.

Se alguém mente mais de uma vez merece representar os escritores e leitores de Caxias do Sul?

Veja abaixo a nota da Marcha Mundial de Mulheres na íntegra:

Carta aberta à comunidade caxiense sobre escolha do patrono da Feira do Livro 2015.
A Marcha Mundial das Mulheres é um movimento feminista, anticapitalista e internacionalista, que existe no Brasil e em mais de 96 países. Há 15 anos nós, mulheres caxienses, estamos organizadas, lutamos e denunciamos todo o tipo de violência vivida pelas mulheres em nossa cidade e no mundo. Como militantes da Marcha Mundial das Mulheres participamos recentemente da Audiência Pública "Avanços e Desafios da Lei Maria da Penha", realizada no dia 10 de setembro de 2015, pela Frente Parlamentar pelo Fim da Violência Contra as Mulheres da Câmara Municipal de Caxias do Sul. A audiência buscou avaliar os avanços e desafios da Lei, considerada um marco na luta pelo fim da violência contra a mulher.

Partindo do debate realizado e da triste realidade presente na vida de tantas mulheres, propomos uma reflexão: Paramos por um instante e nos perguntarmos: qual o índice de violência contra a mulher na nossa cidade? A violência, seja física, moral, psicológica e/ou sexual, faz parte do cotidiano de inúmeras mulheres. É no lar, é na casa, palco das relações domésticas e familiares, que o ato violento é reproduzido pelos próprios namorados, maridos e amigos próximos das vítimas. Agressões e ameaças contra mulheres são frequentes em Caxias do Sul com registro de 500 casos mensais registrados junto à Delegacia para Mulheres.

Criada para frear as milhares de mortes e agressões diárias vivenciadas pelas mulheres, a Lei Maria da Penha prevê uma série de medidas protetivas. Todavia, somente elas não se mostram suficientes para impedir que essa triste realidade continue presente. Apesar da criação da Lei e das políticas nacionais da Secretaria de Política para as Mulheres do Governo Federal, é necessário que os municípios estejam conectados e implementem medidas de prevenção, proteção e conscientização. Atualmente, Caxias do Sul conta com uma Rede de Proteção, uma Delegacia Especializada para as Mulheres e um Juizado da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. Todavia, o atendimento se mostra insuficiente para alcançar toda a demanda, além da necessidade constante de aperfeiçoar suas ações e funcionamento por isso os movimentos sociais – como a MMM - são tão importantes por se constituírem como um espaço de denúncias, encaminhamentos e discussão de politicas públicas.

Exatamente pela importância assumida como movimento feminista e com o compromisso dai advindo foi que na Audiência Pública denunciamos a escolha do patrono da Feira do Livro 2015 pelo fato de o mesmo estar envolvido num processo judicial de violência doméstica. Não compactuamos com a violência contra a mulher e com a possibilidade de homenagens e silêncio diante da denúncia. Não queremos um debate isolado, pessoalizado. Nossas ações sempre buscaram a defesa da vida das mulheres e a superação da violência, em todos os âmbitos e esferas sociais. Nossas ações em sociedade não se dividem entre o público e/ou no privado. Através desse pensamento há anos a violência contra a mulher é naturalizada, escondida.

Infelizmente, a mesma sociedade que julga com severidade outros crimes parece tolerar a violência contra as mulheres. Práticas machistas também costumam inverter papéis, quando a vítima torna-se suspeita, o movimento, algoz. Para nós, práticas de ética, solidariedade, justiça, respeito não se dividem em público e privado, ou diferentes em espaço social. Antes de homenagens ou prêmios queremos que a violência seja debatida não apenas quando ocorre, mas sua origem, suas raízes. A defesa dos direitos humanos é central e nunca nos envergonhou sua defesa. Esperamos que o ocorrido não sirva apenas para venda de jornais, postagens em redes sociais, ou mesmo ataques. Em muitos momentos a violência ocorre em nossa cidade e não é debatida ou publicada. Reafirmamos nosso compromisso na superação da sociedade capitalista, e como movimento social estaremos atentas, auto-organizadas e lutando contra violências e injustiças.

O combate à violência doméstica e sexual não se encerra com o marco jurídico da Lei Maria da Penha ou com o ocorrido. Cabe ao Estado, na agenda de enfrentamento à violência contra a mulher, integrar e fomentar políticas públicas. Gerar autonomia econômica, garantir escolas de educação infantil são alguns dos passos fundamentais para que o Estado cumpra o seu papel na ampliação dos direitos das mulheres e no fim da divisão sexual do trabalho e da violência. Cabe à sociedade, no geral, assumir a manifestação pública de combate às desigualdades de gênero e de defesa dos direitos e autonomia das mulheres.

A violência contra a mulher não é o mundo que a gente quer!

Marcha Mundial das Mulheres.

Caxias do Sul, 22 de setembro de 2015.

Comentários

  1. "Mas essa não é a primeira vez que Uili se envolve em polêmica. Em 2005 ele enviou um release para a imprensa dizendo que havia ganho o prêmio Jabuti, o mais importante prêmio de literatura do país, daquele ano com o livro "O Sino do Campanário". A matéria saiu no Pioneiro e em toda a imprensa. Acontece que ele não tinha nem aberto as inscrições para o prêmio naquele ano. O jornal teve que fazer uma errata. A história é relatada na monografia de Marjuliê Martini como um caso de falha de conferência de informação."

    Fiquei muito curioso nessa parte, vocês tem alguma fonte sobre esse assunto, para eu dar uma pesquisada? Arçç.

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